ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL

Ler Faria Nunes, é como reaprender o significado da própria vida através das palavras. Motivo-me! Realizo-me como leitor. Como escritor, desafia e enriquece-me. Como brasileiro e observador de meu tempo, curvo-me diante a este grande Mestre. Eloquente! Expoente maior de uma Literatura viva e pujante, nossa, brasileira! Salvas ao Imortal José Feldman, por esta grande conquista aos quadros da Academia de Letras do Brasil (Mário Carabajal).

Encaminhado em 20 de maio de 2012 19:18. Publicado em 21/05/12 03:27

ALB e ALOITA EM ITARUMÃ
A literatura como divisor da história

José Faria Nunes*

Itarumã conquista nesta data um de seus maiores feitos a fatos históricos. Talvez se possa comparar este fato com outros de semelhante significação histórica, como o da fundação da cidade no início do século, ou da criação do distrito da década de vinte, ou do Município na década de cinquenta. Cada um dos fatos mencionados marcou dois períodos na história da comunidade itarumense: o do antes e o do depois.

A fundação oportunizou o surgimento do povoado onde antes nem gado se produzia em grande escala; o distrito ensejou o advento do primeiro cartório, dos primeiros órgãos públicos a serviço da comunidade, que antes tinha que recorrer a Jataí. O município trouxe a autonomia político da comunidade, que a partir de então pode escolher os seus mandatários e novos órgãos públicos pode receber.

O fato de hoje marca a consagração da comunidade itarumense como mais uma célula viva a pulsar forte no quadripétalo literocultural formado pela região mais homogênea da rica diversidade brasileira. E o que torna mais significativa essa noite é o testemunho de três outras significativas porções do território brasileiro.

Traduzindo para um português mais inteligível:
Em agosto de 2011 pude inaugurar quando de uma palestra na Capital do Bolsão Sul-Mato-Grossense, a cidade de Paranaíba, quando falei para professores do município e também para professores e acadêmicos de uma faculdade da cidade, expondo a tese do QUADRIPÉTALO LITEROCULTURAL DO BRASIL CENTRAL, composto pelo Bolsão Sul-Mato-Grossense, o Noroeste Paulista, o Pontal do Triângulo Mineiro e o Sudoeste do Estado de Goiás.

O extenso território formado por essas quatro porções de terra, em que pese o fato de estarem em quatro Estados diferentes, convicto estou de que têm em sua constituição humana, econômica e cultural, mais harmônica e integrada entre si, com uma identificação maior do que cada uma delas com o restante de cada um dos estados que a constituem.

Contribui para esse fato termos tido duas frentes de colonização que nos tamanha harmonia e identificação. Primeiro, pelas incursões dos bandeirantes e suas bandeiras vindas do litoral e proximidades, plantando por aqui as primeiras células do povoamento do Brasil Central. Depois, tão importante quanto, e que talvez tenha marcado com mais notoriedade a cultura de nosso quadripétalo, a consequência do declínio da produção açucareira do Nordeste brasileiro.

Passo a esclarecer. Com a decadência dos engenhos, os pecuaristas que abasteciam de carne os senhores de engenho e seus empreendimentos perderam mercado e tiveram que buscar outras alternativas. Foi então buscaram o Velho Chico e por suas margens subiram, gradativamente, até atingirem as suas nascentes no triângulo das gerais, incluindo o Sertão da Farinha Podre que um dia pertenceu a Goiás e hoje constitui o Triângulo Mineiro.

Duas frentes, portanto, a dos bandeirantes paulistas e a dos vaqueiros do nordeste, deram a essa região as características que fazem de nós um único povo, embora dividido por fronteiras políticas diferentes. Portanto, não por acaso que temos hoje aqui tomando posse nesta solenidade escritores do Noroeste Paulista, das cidades de Mendonça e José Bonifácio; da cidade mineira de Campina Verde, no Pontal do Triângulo, do Bolsão Sul-Mato-Grossense representado por Paranaíba e algumas das cidades do Sul e Sudoeste de Goiás. E tudo isso com o testemunho do Rio Grande do Sul, aqui tão bem representado, como igualmente o Estado de Mato Grosso e a capital sul-mato-grossense.

Feita essa introdução histórica sabemos, e muito bem, porque convivem bem o pequi de Goiás com o pão de queijo do triângulo mineiro, e porque em nossas faculdades, em toda essa imensa e rica região, todos entendem bem o uai de um, ou de todos, assim como todos sabem que trem, mais das vezes, não é de ferro, mas "um trem bão qualquer, siô". Ninguém por aqui estranha esse palavreado coloquial que enriquece o nosso falar e que às vezes gera questionamentos em outras regiões do país, talvez até dentro de um mesmo Estado, visto que as divisões políticas se deram mais por conveniências dos que detinham o poder em épocas passadas do que propriamente pela formação cultural ou econômica de determinada região.

Foi por isso que o Sertão da farinha Pobre, ou melhor, o Triângulo Mineiro deixou de pertencer à Capitania de Goiás, assim como também a região do Bolsão ficou ligado ao distante poder político de Cuiabá, e talvez até por isso mesmo tenha recebido o nome de bolsão, pois aqui havia uma identidade cultural e econômica distinta do restante do Estado de Mato Grosso. A divisão do Estado, com a criação de Mato Grosso do Sul amenizou-se a disparidade regional, mas ainda não se pode dizer que o Pantanal de Delasnieve Daspet e Nena Sarti se assemelha cultural e economicamente à região do Bolsão de Tonico Lemos e Márcio Tenaguci. Assim como também o Vale do Jequitinhonha não se identifica com o Pontal de Minas e nem o Sudoeste Goiano com o nordeste do estado na fronteira com a Bahia.

Em que pese tudo isso, o milagre acontece. O milagre brasileiro acontece pela palavra, palavra essa que disse para os estudantes de Mendonça semana passada, mostrando-lhe que ela, a palavra, é poder. E, pelo poder da palavra e em função dela, estamos aqui reunidos um gaúcho de Roraima, uma paraense de Campo Verde no Mato Grosso, uma pantaneira de Campo Grande, que saiu de Porto Murtinho para o Brasil e para o Mundo. Da mesma forma, o gaúcho de Boa Vista do quase extremo norte do Brasil, Carabajal, assim como Delasnieve, unem esse Brasil de Norte a Sul e de Leste a Oeste.

Mário Lopes Carabajal e Delasnieve Daspet, os dois paladinos da cultura, talvez dois Dom Quixotes da literatura, consubstanciam o milagre da língua portuguesa unindo tantos milhares de brasileiros em torno da bandeira da paz pela palavra, vem demonstrar ao Brasil e ao mundo que a palavra é poder, e por meio dela podemos fazer esse mundo melhor. Pela palavra podemos defender a sustentabilidade ambiental; a integração dos povos irmãos de continente brasileiro e Sulamericano. Pela palavra literária podemos promover mais cultura, mais conhecimento, defender mais a sustentabilidade ambiental. Promover a integração dos povos irmãos do continente Brasil e o seu congraçamento, mais lazer, mais recreação e fazer a vida melhor.

Não é por acaso que, quando um grupo de pessoas, de um mesmo país ou de outros, tem na palavra, principalmente a palavra literária, via livros ou cinema, sua maior arma de dominação. Ou difundindo o que quer, ou proibindo o que não quer que seja difundido. Cabe a nós termos consciência e aprendermos a separar o joio do trigo.

E é pela palavra que aqui estamos. Como disse um ex-prefeito de Parati, enquanto prefeito,a festa literária daquele município dá mais lucros econômicos do que qualquer outra atividade econômica da comunidade. Quero dizer aqui que nossos prefeitos, nossos vereadores, se apostarem no poder da palavra literária, que promove cultura, até melhoria do nível de renda de suas respectivas populações pode acontecer. Um povo que lê mais e melhor sabe melhor valorizar o que tem, passa a dar mais valor e aprende a defender mais o que de melhor tem em suas comunidades. A cultura em geral e a literatura em particular são instrumentos que podem combater a violência. Pode contribuir para a melhoria de renda da população, pode dar maior relevância às suas respectivas comunidades.

Caçu, por exemplo, hoje, graças ao seu investimento em arte e em literatura, é tão ou melhor conhecido por este Brasil afora do que pelos seus milhares de bovinos, de corte ou de leite. Ou então, pelos seus milhares de hectares terra plantadas em cana para a produção de etanol. Em 2010, graças ao incentivo do prefeito André, levamos Caçu para o Encontro Nacional de Búzius. No mesmo ano trouxemos o Brasil para Caçu, no I Encontro Nacional dos Poetas Del Mundo. Na verdade foi um encontro internacional, pois contamos com poetas de cinco países: França, Suécia, Chile e Colômbia, além do Brasil.

A literatura caçuense e as artes plásticas já ultrapassaram o Atlântico, chegando a alguns países da Europa. Caçuenses têm conquistado prêmios literários nos Estados que se ostentam como os mais ricos e notórios do Sul e do Sudeste, sem nos esquecermos de premiações também em nosso próprio Estado. Livro de Caçu já foi adotado nas universidades do Estado.

Hoje Itarumã ascende para ocupar um espaço significativo no mapa cultural de Goiás, do Centro Oeste e do Brasil. Aqui estamos diplomando e empossando e homenageando escritores do Sul, do Sudeste e do Centro Oeste brasileiro. Cada um, em seus estados de origem, vão levar felizes lembranças dessa noite. Mas que não daqui não saiam e nem fiquem somente lembranças. Que saiam compromissos e que compromissos fiquem, na busca de uma maior integração da cultura brasileira. Que nossa bandeira contribua para a amenização das disparidades regionais do território brasileiro.

Que saiamos daqui nessa noite com um compromisso diferente daquele da Academia Brasileira de Letras que, embora se chame brasileira e tenha as regalias de uma entidade de todo o País, não passa de um feudo da cidade do Rio de Janeiro. Outros Estados do Brasil só tem acesso à Casa de Machado de Assis, se não houver concorrente da cidade do Rio. Ou então se outras conveniências nacionais existirem, que não necessariamente a literatura. Por exemplo, conveniências políticas. Sem pretender julgar o mérito de determinados imortais da ABL, e sem descer a detalhes, vale lembrar que, infelizmente, um título de governador de Estado, ou de senador ou presidente da república pesam mais do que toda uma vida de alguém cuja existência é quase toda dedicada à literatura.

Para terminar, aproveito para cumprimentar os promotores destes dois memoráveis eventos, que é a instalação da ALB na cidade, com diplomação e posse de intelectuais de várias partes do Brasil, e também a instalação da Aloíta, Academia de Letras de Itarumã, tão colocadas sob a batuta desse jovem professor, que nem uma perna engessada o impediu de se deslocar a Caçu para buscar subsídios para ampliar o brilho dessa noite, transformada em dia. O dia em que a cultura literária passa a irradiar poderosa em mais este pedaço do território brasileiro.

Parabéns, professor Josenildo, com seu denodado empenho para o êxito desse acontecimento. Parabéns a todos os seus pares que igualmente contribuem para que não uma vela ou uma lanterna, mas sim um farol a mais eleve seus raios para enriquecer as mentes sedentas de cultura, de cultura literária. Avante, Aloíta. Avante ALB Itarumã.

Neste momento passa a agradecer a todos que comigo foram solidários na condução dos destinos executivos da ALB em Goiás nestes dois últimos anos. É que estou entregando a batuta para meu sucessor, o Dr. Diácono Valdir Alves da Costa. Estou deixando um cargo, mas não a causa da cultura e da literatura. Hoje, com o prestígio da presença de muitos dos senhores, assumi a condição de governador da Associação Internacional de Poetas Del Mundo em Goiás. E conto com o apoio que todos têm a mim dedicado ao longo de minha trajetória de ativista cultural. Ao mesmo tempo em que desejo êxito ao meu sucessor, conto com o apoio de todos, tanto do pessoal da educação, da classe político-administrativa e sobretudo dos confrades e confreiras.

Finalmente, meus votos de que os Estados representados neste evento e em outros que temos realizado, que todos continuemos unidos.

A todos, desejo A PAZ PELA PALAVRA. Que a PALAVRA ESCRITA cumpra o seu papel de união dos povos para o bem, em combate à violência, aos abusos de toda ordem.


* Escritor, Ph.I. Filósofo Imortal. Doutor em Filosofia Univérsica, Governador/GO 'Poetas del Mundo', Presidente fundador da ALB/Goiás.