LITERATURA NO BRASIL
1500 à 2008

Parte II

Prof. Dr. Mário Carabajal* - Ph.D.

1900-1922
Os modelos  parnasianos e simbolistas estão desgastados, mas não há nova proposta estética, que só surge com o modernismo, em 1922. O pré-modernismo é considerado um período de transição, em que prevalece a preocupação em entender a realidade brasileira. Desenvolve-se, então, o regionalismo, que aparece ainda no século XIX com José de Alencar, Franklin Távora e Bernardo Guimarães, e se caracteriza pela descrição pitoresca dos costumes do interior. Simões Lopes Neto, Valdomiro Silveira e Afonso Arinos estão entre os principais nomes dessa tendência, mas o destaque fica com Monteiro Lobato, autor de Urupês e Cidades Mortas, que se   volta, em seus contos, para o cotidiano do caipira. Ele também é muito conhecido pelas histórias infantis do Sítio do Picapau Amarelo. Lima Barreto transpõe para seus romances a vida dos subúrbios cariocas, numa linguagem que se distancia da influência parnasiana. Euclides da Cunha relata a Guerra de Canudos no monumental trabalho Os Sertões. Sobressai ainda a obra original de Augusto dos Anjos(eu), que traz para o universo da poesia o vocabulário científico e a escatologia característicos do naturalismo.

1922-1930
O evento que marca o início do modernismo no Brasil  é a Semana de Arte Moderna, realizada no Teatro Municipal de São Paulo. Influenciados pelas vanguardas européias, os modernistas promovem uma revolução estética baseada principalmente no verso livre, na incorporação poética do cotidiano na utilização de uma linguagem telegráfica, fragmentada, com elementos extraídos da oralidade e do coloquialismo. Seus expoentes são Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Manuel Bandeira. Destacam-se ainda os escritores Menotti del Picchia e Cassiano Ricardo(do grupo Verde-Amarelo), Raul Bopp e Alcântara Machado.

1930-1945
Quando as conquistas modernistas já estavam incorporadas  aos padrões estéticos nacionais, a geração de 30 volta-se para a denúncia de problemas sociais, dando origem ao movimento conhecido por neo-realismo de 30. Romancistas como Graciliano Ramos, autor de Vidas Secas; José Lins do Rego, de Fogo Morto; Rachel de Queiroz, de O Quinze; e Jorge Amado, de O País do Carnaval, tratam em suas obras da seca, da vida miserável nordestina, da exploração e do desajuste social e psicológico. Érico Veríssimo escreve, nesse período, romances urbanos, entre eles Clarissa, e Olhai os Lírios dos Campos. Na poesia, a tendência é  de retorno a um texto de contornos místicos, religiosos e sugestivos que lembram certos aspectos do romantismo e do simbolismo. Os principais poetas são Jorge de Lima, Murilo Mendes, Cecília Meireles, Vinícius de Moraes e Augusto Frederico Schmidt. Mário Quintana segue essa tendência até a década de 90. Carlos Drummond de Andrade, um dos mais importantes poetas brasileiros realiza uma síntese entre racionalismo e lirismo, revolta e conformismo, angústia e humor.

1945-1968
A literatura brasileira apresenta uma tendência ao experimentalismo lingüístico. João Guimarães Rosas, autor de Sagarana e Grandes Sertões Veredas, desenvolve um regionalismo universalista. João Cabral de Melo Neto trata da problemática social em Morte e Vida Severina e produz uma poesia em que sobressaem o rigor formal e a  contenção, sem prejuízo do lirismo, em obras como A Educação pela Pedra. Clarice Lispector(Pero do coração Selvagem e Laços de Família) volta-se para a realidade psicológica dos personagens, revelando influência do existencialismo e estabelecendo as técnicas do fluxo de consciência. também na linha do romance psicológico estão a literatura de Cornélio Pena( A Menina Morta) e de Lúcio Cardoso(Crônica da Casa Assassinada). Na década de 50 surge a poesia concreta, movimento de vanguarda criado pelos poetas Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari. Ela se opõe ao formalismo da geração de 45. ao impor uma atitude mais parecida com a dos modernistas de 22,na medida em que propõe a destruição do verso e a exploração inovadora dos espaços da página. Rivalizando com o grupo concretista surge, em 1962, a Poesia Práxis, de Mário Chamie.

Década de 60 e 70
A situação política do país, com seus sucessivos governos militares e a censura, fortalece os romances-reportagens como os de José Louzeiro, e as obras que têm como pano de fundo a realidade brasileira, com Quarup, de Antonio Callado. São também retratos da época livros como Zero, de Inácio Loyola Brandão, e A Festa, de Ivan Ângelo. Outro autor importante é Raduan Nassar, com sua linguagem apurada. Lígia Fagundes Telles publica contos e romances de grande penetração psicológica. Na linha dos romances intimistas, sobressaem  a narrativa refinada de Autran Dourado (Sinos de Agonia) e o complexo trabalho estilístico de Osman Lins (Avalovara). Os contos de Dalton Trevisan misturam o grotesco ao banal. Pedro Nava destaca-se como memorialista. Ferreira Gullar, que se distanciara da poesia concreta, continua a produzir sua poesia participante. A partir do final dos anos 70 surge a chamada geração mimeógrafo, criadores de uma poesia anárquica, satírica e coloquial. Seus principais nomes são Ana Cristina César e Cacaso.

Década de 80
O período conhecido por  pós-modernidade tem como característica marcante a heterogeneidade - pluralidade de vozes, de estilos, de gêneros e de visões de mundo. No Brasil, a chamada geração de 80 é marcada pelo desencanto em relação aos ideais de engajamento social e político da década de 70. Caracteriza-se pela temática predominantemente urbana, com ênfase nos estilos pessoais e na exploração de novas técnicas narrativas.

1980-1985
No gênero policial, Rubem Fonseca explora os resultados psíquicos, sociais e  estéticos da violência urbana. Sobretudo em A Grande Arte (1983). Hilda Hilst trabalha temas metafísicos, privilegiando a exploração do universo sexual e a utilização do fluxo de consciência em poesia e prosa poética. Nas obras de João Gilberto Noll (A Fúria do Corpo), a sexualidade vem acompanhada de um clima pesado de delírio. Caio Fernando Abreu dedica-se ao romance urbano de inflexões intimistas. João Ubaldo Ribeiro investiga a história da identidade brasileira em Viva o Povo  Brasileiro (1984). Do mesmo ano é o romance de de Nelida Piñon, A República dos Sonhos, que aborda as aventuras de imigrantes no Brasil. Na poesia, José Paulo Paes, Haroldo de Campos e Paulo Leminski continuam a explorar técnicas inspiradas no concretismo. ganha destaque a  poesia de Adélia Prado, que trabalha o universo feminino e cotidiano.

1986-1989
Ana Miranda lança o romance Boca do Inferno, sobre a vida de Gregório de Matos. No romance intimista destaca-se o livro de estréia de Milton Hatoum, Relato de um Certo Oriente. Josué Montello privilegia o universo maranhense em narrativas históricas. Nesse período torna-se mais conhecida a poesia de Manuel Barros (publicada em1990), cujo apurado trabalho estilístico se volta para os temas ligados à região do Pantanal. Também é importante a obra reflexiva e matalingüística da poesia Orides Fontela.

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* Presidente Fundador do Conalb - Conselho Nacional das Academias de Letras do Brasil e ALB - 23 livros publicados e trinta em fase de revisão. Jornalista, Educador Físico e Psicanalista. Especialista em Pesquisa Científica, Tecnologia Educacional e Psicossomatologia. Mestre em Psicanálise Clínica e Doutor em Psiconeurofisiologia. Estudante de Especialização em Controle da Gestão Pública/Ufsc e de Neurociências/Edumed/RJ. Estudante de Mestrado e Doutorado em Relações Internacionais/UAA. Professor de Pós-Graduação da Universidade Gama Filho.

 

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