ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL

A união dos povos e a utopia
Vânia Moreira Diniz

 

Nada é mais verdadeiro do que o ser, suas essências e magnitudes. Existimos
independentes do lugar, ocasião, data, raça. Somos antes de qualquer outra evidência
um ser humano. E o ser humano é um só, verdade evidenciada justamente nos dois
acontecimentos mais marcantes da vida: Nascimento e morte .

Quando somos concebidos passamos a nos desenvolver num lugar aconchegante, o útero
materno de forma absolutamente semelhante e também no momento tão esperado em que
respiramos pela primeira vez o oxigênio, acontecimento que transcende tudo que possa
existir. Do mesmo modo e de maneira mais dramática aparentemente no último suspiro
em que ao contrário do nascimento o oxigênio começa a faltar e a luta é tão grande
como fora a outra em proporções contrastantes, mas igualmente intensas.

Nascemos para cumprir uma missão e temos igualmente dores, alegrias, emoções e uma
estrada que devemos caminhar enquanto vivermos. Claro que somos seres individuais e
encaramos tudo à nossa volta de um modo especificamente personalizado.

Podemos ter características diferentes, mas a essência é a mesma: Seres humanos da
mesma espécie e custa compreender os preconceitos que se instalam como uma erva
daninha, um câncer maligno destruindo o que há de mais nobre em qualquer indivíduo.

Se o mundo, as civilizações divergem em certos aspectos, nada diferencia o ser
físico e íntimo, mesmo abstrato e só idéias arraigadas por personalidades doentias
poderiam pensar de outra forma.

Basta evidenciar a natureza que alimenta e proporciona bem estar a todos os
indivíduos: O ar, a natureza em seu apogeu e todos os elementos naturais para
verificarmos o quanto de violência existe na diferenciação do ser humano pelo
próprio ser humano. É não só uma brutalidade ignóbil, como ignorância no mais alto
grau, falta de sensibilidade e até mesmo de discernimento.

Desde o início de nossa civilização as atrocidades redundando em guerra tomaram
conta do mundo e seria considerada uma utopia idealizar-se um modo diferente da
humanidade caminhar. Mesmo porque segundo os especialistas o avanço e progresso não
se dariam sem a disputa bélica. Triste conclusão!

A verdade é que o desenvolvimento da ciência surgiu justamente em contraposição à
utopia e temos como exemplo as grandes invenções de gênios já considerados
desorientados, porém que sobrepujaram o pensamento das pessoas convencionalmente
normais e produziram o que jamais se pensou ser possível.

A partir do momento que se respeitem as diferenças não há divergência. Uma utopia
das mais vigorosas, partindo do princípio que as pessoas costumam ser agressivas
quando são questionadas.

O que faz com que o mundo fique realmente de luto, são as rivalidades e preconceitos
de qualquer espécie: raças, regiões e exclusões que o homem cria com a fúria do
convencionalismo pessoal adquirido no contato de sua personalidade com as leis
antinaturais do mundo.

A união dos povos total e sem discriminação seria uma utopia na qual valeria a pena
apostar sonhando com a paz do mundo, com seres humanos dignos de mãos dadas em busca
da generosidade, solidariedade natural e humana que deveria caracterizar o planeta
em que vivemos. E isso constitui acima de qualquer utopia o processo mais vigoroso e
fascinante da verdadeira felicidade.